Click to listen highlighted text!
Pular para o conteúdo

Nosso Blog

Diário de Bicicleta no Nepal Final – Chegamos em Chaco! E estamos mais perto de casa do que pensamos

#Nota7 – 30/05/2017* – 07h35 (horário de Katmandu)

Enfileiramos as bicicletas, tiramos as mochilas, os óculos, os capacetes e os tênis. Após 114 quilômetros de pedaladas, chegamos na sexta-feira, dia 26/05, em Chaco, na fronteira com o Tibet!

A igreja não tem nome (como a maioria delas no Nepal), mas é uma alegria para nós entrarmos numa. No andar de baixo tem uma garagem, quartos e cozinha. Subindo alguns lances de escada, entramos no espaço do templo. As paredes são de um rosa forte e, como em qualquer igreja, o espaço para o pregador e os músicos fica em um nível de chão mais alto, cumprindo as funções de palco. Nada lembra aqueles santuários ricos e sofisticados. Mas é um lugar simples, bonito e limpo, como muitos no Brasil. Diferentemente de nossas igrejas, no entanto, todos sentam no chão, um chão protegido por um carpete verde. Do lado esquerdo de quem entra ficam as mulheres, e do lado direito os homens.

nepal 7 2

O culto começa. Quem dirige a primeira parte da liturgia é uma jovem mãe. Os músicos também são jovens. Um menino de uns sete anos toca a percussão. Após o louvor, o pastor Timothy toma a palavra. Ele, que também é jovem, tem entusiasmo. Conhece cada um daqueles rostos, conhece suas histórias, seus sofrimentos, suas privações. Lembra do desespero quando a terra tremeu e imensas pedras foram caindo no dia 25 de abril de 2015. Ele que nasceu aqui também neste pequeno vilarejo isolado, foi criado em um orfanato, e ganhou esperança infinita ao conhecer o Evangelho por meio do Pr. Can, um missionário indiano. Timothy tem problemas na articulação do seu corpo, anda meio “travado” e encurvado. Não se sabe exatamente a causa. Outros parentes dele também têm o mesmo problema. Por isso, foi especialmente difícil para Timothy pedalar conosco no percurso.

Convivemos com ele nestes últimos três dias. Vimos sua fragilidade física, sua timidez, sua simplicidade. Mas pela primeira vez estamos vendo em ação o Timothy que é pastor e líder de uma comunidade cristã. Sua confiança e sua iniciativa nos deixam satisfeitos. Ao conversarmos com ele em particular, percebemos como fala de forma clara e objetiva.

Estamos num lugar em que o forte terremoto de 2015 destruiu casas e obrigou muitas famílias a irem embora. O número de membros da igreja diminuiu mais da metade. Chaco é um estreito vale escondido por imponentes montanhas. Aqui não há hospital, nem médico. As grávidas tem pouca escolha: ou viajam para a capital Katmandu numa viagem de ônibus de 3 horas e meia; ou esperam o bebê nascer em casa mesmo, sem ajuda alguma.

Cerca de 50 nepaleses estão no culto. Os outros, um pouco mais de vinte pessoas, somos nós, do projeto “Pedalando por Bíblias”. Há mulheres idosas, há jovens, há crianças. Poucos são os homens mais adultos. Isso acontece porque os homens saem do Nepal a procura de emprego em países como Índia, China e Malásia.

Neste lugar não há renda fixa. Não há trabalho disponível. Não há muitas oportunidades de estudo e de crescimento. O perigo de novos terremotos é real e já foi alertado pelo Governo.

Ser cristão aqui é ser a minoria e viver uma estranheza cultural. Não é fácil. Mas a igreja é um refúgio para as pessoas. Nela elas podem louvar a Deus, mas também ter um senso de família.

Nós, que viemos do Brasil, ainda não conseguimos entender tudo isso, mas de alguma forma nos sentimos parte da vida desta igreja. De alguma forma, encontramos aqui o que perdemos em nosso país. De algum jeito, nos sentimos comissionados a abençoá-los, enquanto somos muito mais abençoados. As crianças nos abraçam, brincam conosco. As mulheres nos cumprimentam com timidez e os homens jovens e adultos dialogam conosco sobre como é a vida aqui.

No culto, somos convidados a dar nossos testemunhos. O primeiro a falar é o pastor Weslley Silva. De forma lúdica e clara, ele lista os quatro pilares da fé cristã: oração, Bíblia, igreja e testemunho. Outros também falam: o pastor chileno Juan Pablo e o brasileiro Paulo. Após isso, chegou o grande momento da entrega das Bíblias. Distribuímos dois exemplares para cada pessoa. Uma delas deve ser entregue para alguém que não é cristão. Nossa ideia inicial era fazer a distribuição nas casas de não-cristãos, mas fomos aconselhados a não fazer isso, por conta do clima ainda hostil ao Cristianismo. As crianças ganharam brinquedos e balas, e ficaram ainda mais felizes. nepal 7

Após o culto, almoçamos juntos. Um momento singelo, mas rico em significado para todos. Apesar de morarmos em lugares diferentes e de termos realidades sociais, econômicas e culturais diferentes, somos “um” em Cristo. Somos o Seu Corpo. Mais do que nos dar alento espiritual, esta verdade deve nos encorajar a viver a unidade no serviço, na generosidade, no amor pelo Evangelho.

Nosso ônibus já nos espera. No caminho de volta, nossas bicicletas vão em caixas num caminhão. Chove fino, mas sem parar. Nos despedimos do pastor Timothy e de todos os outros cristãos que estão na igreja. Bagagens organizadas, cada um encontra sua poltrona. Ninguém fala a respeito, mas certamente muitas perguntas passam por nossas mentes: “o que Deus quer nos ensinar?”, “Será que nos veremos novamente?”, “Como sobreviver em um lugar tão pobre e perigoso?”.

A viagem de volta para a capital foi mais rápida do que a ida, mas as experiências que vivemos nos últimos 4 dias demorarão a serem esquecidas. Tomara que nunca sejam.

#diariodebicicletanonepal #pedalandoporbíbliasnepal

* Devido a limitações técnicas com a internet, não foi possível publicar este texto na data exata dos fatos.

Curtiu o conteúdo? Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp

Deixe o seu comentário

Click to listen highlighted text!